segunda-feira, 2 de março de 2015

ELABORANDO AVALIAÇÕES



Rosemary Kaspary
Supervisora Escolar

“No ambiente escolar, a avaliação só faz sentido quando serve
para auxiliar o estudante a superar as dificuldades.”

O acompanhamento do processo de ensino-aprendizagem é uma das responsabilidades do professor no  seu trabalho em sala de aula. É uma das tarefas mais complexas a que ele se dedica e também uma das mais importantes.
Através desse acompanhamento o professor analisa os resultados de seu trabalho, reorganiza sua atuação, propicia aos estudantes uma aprendizagem de melhor qualidade e fornece dados para  reestruturar-se e atingir seus objetivos.
A finalidade das provas não é aprovar e reprovar, dar notas altas ou baixas, conseguir (ou não) a adesão dos alunos para determinados comportamentos considerados adequados pela comunidade escolar. “Trata-se de um processo de acompanhamento sistemático do desempenho escolar dos alunos em relação aos objetivos, para sentir o seu progresso, detectar as dificuldades, retomar a matéria quando os resultados não são satisfatórios”( Libâneo,1994).
Os objetivos que orientam o professor no planejamento de suas ações são o ponto de partida para a seleção e a elaboração dos instrumentos de avaliação – entre eles as provas escritas – pois estabelecem o desempenho esperado de todos os alunos, o que se deseja alcançar com o processo educativo escolar.
A aplicação de provas escritas aos alunos pode ter vários objetivos: verificar os requisitos, consolidar a aprendizagem, acompanhar a aprendizagem, planejar a recuperação, avaliar o desempenho, o conhecimento que os alunos alcançaram ao final de uma etapa (uma semana, um tópico, um trimestre, etc).
Qualquer que seja o objetivo do professor, é importante deixar claro para os alunos, ocorrendo de forma similar na avaliação o que deve acontecer no decorrer das aulas: os alunos devem saber quais são os objetivos da unidade que está sendo desenvolvida, o que se espera  em termos de aprendizagem e os critérios que serão usados na sua avaliação.
A primeira pergunta que professores, coordenadores e diretores devem fazer é: Com que objetivo vamos avaliar? Para formar pessoas ou futuros universitários? Para classificar e excluir alunos ou para ajudá-los a aprender?
É consenso entre os educadores que o aprendizado, na sala de aula, não se dá de forma uniforme. Cada um de nós tem seu ritmo, suas facilidades e dificuldades. Afinal, somos pessoas distintas. Todos merecem ser julgados em relação a si mesmos, não na comparação com os colegas.
Qualquer que seja o instrumento que adote, o professor deve ter claro se ele é relevante para compreender o processo de aprendizagem da turma e mostrar caminhos para uma intervenção visando sua melhoria.

TIPOS DE PROVAS:

Há dois tipos principais de provas escritas: a prova dissertativa e a prova objetiva.Cada uma delas é útil em determinadas situações e devem ser escolhidas em função dos objetivos do conteúdo em questão.

Ø  Provas Dissertativas:
As provas dissertativas os alunos organizam e escrevem as respostas usando suas  próprias palavras, tendo assim, liberdade para organizar e decidir sobre a extensão das respostas.  São úteis para verificar: o raciocínio; a organização das idéias; a clareza de expressão; a originalidade; a capacidade de relacionar fatos e idéias; a capacidade de aplicar conhecimentos; a capacidade de analisar  criticamente uma  idéia e de emitir juízos de valor; a habilidade de expressar opiniões por escrito com clareza; a capacidade de interpretar, de fazer inferências, etc. São úteis, também, para   conhecer as opiniões dos alunos e avaliar suas atitudes, conforme o tema abordado (por exemplo: como é minha família, porque gosto de Matemática).
As questões dissertativas podem ser classificadas em três grupos de acordo com sua complexidade:
a) perguntas de respostas curtas: respostas exigem apenas a lembrança de fatos, datas, locais etc. São usadas expressões como: o que, quem, com, quando, qual, onde.
b) questões que exigem respostas mais elaboradas Instruções usuais são: relacione, enumere, defina, organize, selecione, exemplifique.
c) itens que se referem a dissertações propriamente dita: com respostas mais complexas e de extensão variável, a partir de instruções como: descreva, explique, compare, analise, resuma, interprete.




Vantagens:
o   Permite avaliar processos mentais superiores;
o   Possibilidade de acerto causal é reduzida;
o   Organização é relativamente fácil e rápida;
o   Requer dos alunos um tipo importante de estudo e preparo.

Desvantagens:
·         A correção não é objetiva (pouco fidedigna, dá margem a discrepâncias na atribuição de notas e menções);
·         A amostragem dos conteúdos é limitada porque a questão requer mais tempo para ser respondida;
·         Requer bastante tempo para correção.

Ao elaborar provas  dissertativas procure seguir os passos básicos:
a) Faça uma lista de conhecimentos e habilidades (de diferentes natureza) que deseja verificar, de acordo com os objetivos que pretendia alcançar com o ensino e entre eles selecione o que irá pedir na prova.
b) Ao definir o número de questões e sua complexidade leve em conta o tempo disponível para a resolução e a preparação da maioria dos alunos da classe.
c) Redija o item com clareza e exatidão especificando o que espera como resposta.
d) Defina previamente os critérios de correção para cada questão. Prepare um guia de correção com as respostas que considerará corretas em cada questão, a partir do padrão de desempenho que considera desejável.
e) Atribua a cada questão um valor, se pretender valorizar uma questão mais do que outra.
f) Corrija pergunta por pergunta e  não prova por prova, a fim de comparar as respostas entre si, tendo em vista o padrão que definiu. Anote os erros dos alunos para planejar, posteriormente, atividades de recuperação.
g) Procure ser o mais objetivo possível na correção, dentro dos critérios estabelecidos. Se for possível, tente manter o anonimato dos alunos.

Ø  Provas Objetivas:
As provas objetivas são úteis para avaliar uma grande extensão de conhecimentos e habilidades. Geralmente, ao invés de respostas abertas pede- se aos alunos que complete frases,  assinale a resposta correta, ou dê respondas curtas às questões colocadas. Exigem, portanto, respostas mais precisas.

Alguns cuidados na elaboração:
a) Faça uma lista de conhecimentos e habilidades (de diferentes natureza) que deseja verificar, de acordo com os objetivos que pretendia alcançar com o ensino e entre eles selecione o que irá pedir na prova.
b) Ao definir o número de questões e sua complexidade leve em conta o tempo disponível para a resolução e a preparação da maioria dos alunos da classe. O número de questões deve ser adequado para abranger as habilidades e os conhecimentos  desejados, sendo uma amostragem representativa do conteúdo a ser avaliado.
c) Defina o tempo da prova considerando que os alunos devem realmente resolver as questões e não dar respostas aleatórias. Além disso, considere: o nível de maturidade dos alunos, a complexidade dos objetivos e conteúdos, o número de itens,  a extensão e o tipo de questão, o vocabulário utilizado,  a estrutura das frases.
d) Escolha o tipo de questão mais adequada aos objetivos da prova. Leve em consideração: o tipo de habilidade e processo mental que quer verificar, a natureza da área que ensina, o nível de maturidade dos alunos, o grau de objetividade da correção.
e) Elabore instruções específicas para as questões que incluir na prova.

f) Faça uma chave de correção previamente e atribua o valor a ser dado a cada questão.
g) Se for usar critérios de correção diferentes dos usuais, indique-os claramente na prova.
h) Apresente sempre as Avaliações na forma impressa e de preferência use apenas um dos lados do papel. Cada questão deve estar em uma única folha pois virar a folha constantemente pode dificultar a leitura, ocupar tempo e dispersar a atenção dos alunos.
i) Se quiser, apresente um gabarito para ser preenchido e entregue.
j) Facilite a visualização e a leitura: não use letra muito pequena e separe uma questão da outra com um espaço. Só inclua ilustrações se elas forem imprescindíveis. Nesse caso, tenha a certeza de que estão nítidas e podem ser facilmente reconhecidas e analisadas.
l) As questões devem ser distribuídas quanto ao nível de dificuldade e agrupadas segundo o assunto e tipo de teste. Agrupe as questões de mesmo tipo.(lacunas, múltipla  escolha, verdadeiro-falso etc) e associe a esse critério a ordem de  dificuldade e a similaridade entre os conteúdos. Isso facilita a correção e a análise posterior do professor, além de favorecer o desempenho dos alunos.
m) Inclua na prova questões de diferentes níveis de dificuldade.
n) Procure elaborar enunciados  pessoais, sem transcrever os exercícios dos livros que usa como  apoio. A reprodução textual estimula a “decoreba”.
o) Organize as questões em ordem de dificuldade crescente. Se o aluno tem um sucesso inicial é possível que se sinta estimulado a dar continuidade à tarefa de fazer a prova. Além disso, evita que perca tempo em um item difícil e não consiga responder os mais fáceis.
p) Não faça questões encadeadas, onde a reposta de uma é necessária para a resposta de outra; nem questões que sugiram a respostas de questões posteriores.
q) Os enunciados das questões devem ser claros e simples e abordar idéias relevantes. Todas as informações necessárias para a resolução devem ser dadas no corpo do item. O  nível de dificuldade da questão deve estar no conteúdo e não na sua formulação.
r) Depois de elaborada a Avaliação, releia e analise cada item. Resolva-os como se fosse o próprio aluno. Isso ajuda a reestruturar a questão e a estabelecer o tempo de resolução de forma mais precisa. Considere sempre que essa é uma simulação, mas que você é o professor.
s) Depois de aplicado, corrija com atenção e faça a tabulação dos resultados. Se muitos alunos errarem uma determinada questão pode ser que ela tenha sido mal formulada. Peça as opiniões dos alunos a respeito da compreensão que tiveram sobre o enunciado.
t) Guarde as boas questões para  serem aproveitadas em outros momentos, organizando um arquivo de  questões. Nesse caso, guarde a questão junto com o objetivo a que se propôs verificar.

Orientações específicas para a elaboração de diferentes tipos de questões objetivas:

q  Questões de recordação simples ou itens de resposta curta:
São úteis quando se pretende que o aluno defina, nomeie, descreva. Os itens de recordação simples  apresentam-se geralmente sob a forma de uma pergunta direta ou de declarações incompletas que exigem respostas breves e bem definidas. O aluno deve escrever apenas uma palavra, uma frase curta, um símbolo ou um número.  Esse tipo de questão deve admitir apenas uma resposta correta mas devem ser aceitas diferentes maneiras de os alunos expressarem seus conhecimentos.
q  Questões de lacuna ou completar:
      Consistem em uma ou mais frases com algumas partes omitidas, que devem ser preenchidas por uma palavra, símbolo, expressão ou número. Na correção pode-se atribuir um valor por questão ou um valor por lacuna, dependendo do objetivo do professor. Usar, entretanto, um só critério para todas as questões de lacuna.
Alguns cuidados:
a)      formule a questão de modo  que cada lacuna só admita uma resposta correta;
b)      use afirmações curtas e bem definidas;
c)      omita apenas as palavras-chave para que não haja mais de uma interpretação, mas de modo que a palavra omitida não dificulte a compreensão da questão;
d)      tratando-se de questões de medida especifique a unidade e a precisão da resposta (m², litros, duas casas decimais, etc.);

q  Questões de verdadeiro/falso, certo/errado:    
São particularmente úteis para verificar a distinção entre causa e efeito, entre fato e opinião. Devem ser usadas com proposições indiscutivelmente verdadeiras ou falsas. Sua construção requer cuidado para que as questões não se tornem ambíguas.


Ao elaborar esse tipo de questão observe:
a) liste várias afirmações verdadeiras e reescreva algumas para torná-las falsas;

b) redija frases curtas, claras, em ordem direta; inclua no enunciado apenas assuntos relevantes; evite declarações parcialmente corretas;
c) evite frases longas; é preferível desdobrar a questão e apresentar  uma idéia em cada item;
d) inclua apenas um assunto em cada item;
c) cada alternativa deve conter apenas uma afirmação;
d) mesmo a afirmação errada deve ser enunciada de forma afirmativa;
e) use linguagem simples para evitar equívocos no julgamento;
f) evite frases negativas, principalmente negativas duplas;
g) evite o uso de palavras taxativas como: sempre, nunca, todo, nenhum, geralmente, muitas vezes, etc.
h) equilibre o número de respostas falsas com as verdadeiras;
i) evite padrões na seqüência de respostas;

q  Questões de múltipla escolha:
Nesse tipo de questão pede-se ao  aluno para selecionar uma das respostas propostas como a mais adequada à pergunta formulada. Elas podem ser organizadas em forma de perguntas ou de proposições incompletas. Uma maneira prática de elaborar é imaginar inicialmente uma pergunta e sua resposta correta e depois transformá-la em uma questão.
Essas questões devem oferecer várias alternativas com respostas mais longas e mais completas, das  quais apenas uma é a correta ou a que melhor reponde ao item. O número ideal de alternativas é de quatro ou cinco. O aluno deve ser informado sobre  a existência de uma única alternativa correta ou sobre a possibilidade de assinalar várias delas.
      Cuidados na elaboração:
a)      usar linguagem clara, correta e acessível;
b)     as alternativas não devem conter absurdos; todas devem ser objeto de análise por parte dos alunos;
c)      evite o uso de “ciladas” ou questões interligadas que favoreçam a propagação do erro;
d)     modifique aleatoriamente a posição da resposta correta;
e)      as alternativas devem ser simples, curtas e de fácil leitura;
f)       construa todos os itens do  teste com o mesmo número de alternativas.

É preciso romper definitivamente o estereótipo do mestre com a fita métrica na mão, pronto para medir, julgar e rotular cada um de seus estudantes.
Ao final, todo o processo tem de ser repensado, de forma a mudar os pontos deficientes e aperfeiçoar o ensino e a aprendizagem. Basta que os alunos tenham ido mal nas provas para  saber o que é preciso mudar na didática ou reforçar conteúdos. Enquanto os alunos se perguntam o que fazer para recuperar a nota, os professores devem se questionar como recuperar a aprendizagem.

“A nota é apenas uma representação simplificada de um momento do processo de aprendizagem.
 O que vale é o crescimento do aluno em relação a si próprio e aos objetivos  propostos."

Referências:
REVISTA, Nova Escola - Edição Nº147 - Novembro de 2001.

TANCREDI, REGINA MARIA S. PUCCINELLI. O Acompanhamento do Processo Ensino-Aprendizagem Através das Provas Escritas. CAPES/SEE/DE. 2002.

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