Rosemary Kaspary
Supervisora
Escolar
“No ambiente escolar, a avaliação só faz sentido quando serve
para auxiliar o estudante a superar as dificuldades.”
O acompanhamento do processo de ensino-aprendizagem é uma
das responsabilidades do professor no
seu trabalho em sala de aula. É uma das tarefas mais complexas a que ele
se dedica e também uma das mais importantes.
Através desse
acompanhamento o professor analisa os resultados de seu trabalho, reorganiza
sua atuação, propicia aos estudantes uma aprendizagem de melhor qualidade e
fornece dados para reestruturar-se e
atingir seus objetivos.
A finalidade das provas não é aprovar e reprovar, dar notas
altas ou baixas, conseguir (ou não) a adesão dos alunos para determinados
comportamentos considerados adequados pela comunidade escolar. “Trata-se de um
processo de acompanhamento sistemático do desempenho escolar dos alunos em
relação aos objetivos, para sentir o seu progresso, detectar as dificuldades,
retomar a matéria quando os resultados não são satisfatórios”( Libâneo,1994).
Os objetivos que
orientam o professor no planejamento de suas ações são o ponto de partida para
a seleção e a elaboração dos instrumentos de avaliação – entre eles as provas
escritas – pois estabelecem o desempenho esperado de todos os alunos, o que se
deseja alcançar com o processo educativo escolar.
A aplicação de
provas escritas aos alunos pode ter vários objetivos: verificar os requisitos,
consolidar a aprendizagem, acompanhar a aprendizagem, planejar a recuperação,
avaliar o desempenho, o conhecimento que os alunos alcançaram ao final de uma
etapa (uma semana, um tópico, um trimestre, etc).
Qualquer que
seja o objetivo do professor, é importante deixar claro para os alunos,
ocorrendo de forma similar na avaliação o que deve acontecer no decorrer das
aulas: os alunos devem saber quais são os objetivos da unidade que está sendo
desenvolvida, o que se espera em termos
de aprendizagem e os critérios que serão usados na sua avaliação.
A primeira
pergunta que professores, coordenadores e diretores devem fazer é: Com que
objetivo vamos avaliar? Para formar pessoas ou futuros universitários? Para
classificar e excluir alunos ou para ajudá-los a aprender?
É consenso entre os educadores que o aprendizado, na sala
de aula, não se dá de forma uniforme. Cada um de nós tem seu ritmo, suas
facilidades e dificuldades. Afinal, somos pessoas distintas. Todos merecem ser
julgados em relação a si mesmos, não na comparação com os colegas.
Qualquer que
seja o instrumento que adote, o professor deve ter claro se ele é relevante
para compreender o processo de aprendizagem da turma e mostrar caminhos para
uma intervenção visando sua melhoria.
TIPOS DE PROVAS:
Há dois tipos principais de provas escritas: a prova dissertativa
e a prova objetiva.Cada uma delas é útil em determinadas situações e
devem ser escolhidas em função dos objetivos do conteúdo em questão.
Ø Provas
Dissertativas:
As provas
dissertativas os alunos organizam e escrevem as respostas usando suas próprias palavras, tendo assim, liberdade
para organizar e decidir sobre a extensão das respostas. São úteis para verificar: o raciocínio; a
organização das idéias; a clareza de expressão; a originalidade; a capacidade
de relacionar fatos e idéias; a capacidade de aplicar conhecimentos; a
capacidade de analisar criticamente
uma idéia e de emitir juízos de valor; a
habilidade de expressar opiniões por escrito com clareza; a capacidade de
interpretar, de fazer inferências, etc. São úteis, também, para conhecer as opiniões dos alunos e avaliar
suas atitudes, conforme o tema abordado (por exemplo: como é minha família,
porque gosto de Matemática).
As questões dissertativas podem ser classificadas em três
grupos de acordo com sua complexidade:
a) perguntas de respostas curtas: respostas exigem
apenas a lembrança de fatos, datas, locais etc. São usadas expressões como: o
que, quem, com, quando, qual, onde.
b) questões que exigem respostas mais elaboradas
Instruções usuais são: relacione, enumere, defina, organize, selecione,
exemplifique.
c) itens que se referem a dissertações propriamente dita:
com respostas mais complexas e de extensão variável, a partir de instruções
como: descreva, explique, compare, analise, resuma, interprete.
Vantagens:
o Permite avaliar
processos mentais superiores;
o Possibilidade de
acerto causal é reduzida;
o Organização é
relativamente fácil e rápida;
o Requer dos
alunos um tipo importante de estudo e preparo.
Desvantagens:
·
A correção não é objetiva (pouco fidedigna, dá margem a
discrepâncias na atribuição de notas e menções);
·
A amostragem dos conteúdos é limitada porque a questão
requer mais tempo para ser respondida;
·
Requer bastante tempo para correção.
Ao elaborar provas
dissertativas procure seguir os passos básicos:
a) Faça uma lista de conhecimentos e habilidades (de
diferentes natureza) que deseja verificar, de acordo com os objetivos que
pretendia alcançar com o ensino e entre eles selecione o que irá pedir na
prova.
b) Ao definir o número de questões e sua complexidade leve
em conta o tempo disponível para a resolução e a preparação da maioria dos
alunos da classe.
c)
Redija o item com clareza e exatidão especificando o que espera como resposta.
d) Defina previamente os critérios de correção para cada
questão. Prepare um guia de correção com as respostas que considerará corretas
em cada questão, a partir do padrão de desempenho que considera desejável.
e)
Atribua a cada questão um valor, se pretender valorizar uma questão mais do que
outra.
f) Corrija pergunta por pergunta e não prova por prova, a fim de comparar as
respostas entre si, tendo em vista o padrão que definiu. Anote os erros dos
alunos para planejar, posteriormente, atividades de recuperação.
g) Procure ser o mais objetivo possível na correção, dentro
dos critérios estabelecidos. Se for possível, tente manter o anonimato dos
alunos.
Ø Provas
Objetivas:
As provas
objetivas são úteis para avaliar uma grande extensão de conhecimentos e
habilidades. Geralmente, ao invés de respostas abertas pede- se aos alunos que
complete frases, assinale a resposta
correta, ou dê respondas curtas às questões colocadas. Exigem, portanto,
respostas mais precisas.
Alguns cuidados
na elaboração:
a) Faça uma
lista de conhecimentos e habilidades (de diferentes natureza) que deseja
verificar, de acordo com os objetivos que pretendia alcançar com o ensino e
entre eles selecione o que irá pedir na prova.
b) Ao definir o
número de questões e sua complexidade leve em conta o tempo disponível para a
resolução e a preparação da maioria dos alunos da classe. O número de questões
deve ser adequado para abranger as habilidades e os conhecimentos desejados, sendo uma amostragem
representativa do conteúdo a ser avaliado.
c) Defina o
tempo da prova considerando que os alunos devem realmente resolver as questões
e não dar respostas aleatórias. Além disso, considere: o nível de maturidade
dos alunos, a complexidade dos objetivos e conteúdos, o número de itens, a extensão e o tipo de questão, o vocabulário
utilizado, a estrutura das frases.
d) Escolha o
tipo de questão mais adequada aos objetivos da prova. Leve em consideração: o
tipo de habilidade e processo mental que quer verificar, a natureza da área que
ensina, o nível de maturidade dos alunos, o grau de objetividade da correção.
e) Elabore
instruções específicas para as questões que incluir na prova.
f) Faça uma
chave de correção previamente e atribua o valor a ser dado a cada questão.
g) Se for usar
critérios de correção diferentes dos usuais, indique-os claramente na prova.
h) Apresente
sempre as Avaliações na forma impressa e de preferência use apenas um dos lados
do papel. Cada questão deve estar em uma única folha pois virar a folha
constantemente pode dificultar a leitura, ocupar tempo e dispersar a atenção
dos alunos.
i) Se quiser,
apresente um gabarito para ser preenchido e entregue.
j) Facilite a
visualização e a leitura: não use letra muito pequena e separe uma questão da
outra com um espaço. Só inclua ilustrações se elas forem imprescindíveis. Nesse
caso, tenha a certeza de que estão nítidas e podem ser facilmente reconhecidas
e analisadas.
l) As questões
devem ser distribuídas quanto ao nível de dificuldade e agrupadas segundo o
assunto e tipo de teste. Agrupe as questões de mesmo tipo.(lacunas,
múltipla escolha, verdadeiro-falso etc)
e associe a esse critério a ordem de
dificuldade e a similaridade entre os conteúdos. Isso facilita a
correção e a análise posterior do professor, além de favorecer o desempenho dos
alunos.
m) Inclua na
prova questões de diferentes níveis de dificuldade.
n) Procure
elaborar enunciados pessoais, sem
transcrever os exercícios dos livros que usa como apoio. A reprodução textual estimula a
“decoreba”.
o) Organize as
questões em ordem de dificuldade crescente. Se o aluno tem um sucesso inicial é
possível que se sinta estimulado a dar continuidade à tarefa de fazer a prova.
Além disso, evita que perca tempo em um item difícil e não consiga responder os
mais fáceis.
p) Não faça
questões encadeadas, onde a reposta de uma é necessária para a resposta de
outra; nem questões que sugiram a respostas de questões posteriores.
q) Os enunciados
das questões devem ser claros e simples e abordar idéias relevantes. Todas as
informações necessárias para a resolução devem ser dadas no corpo do item.
O nível de dificuldade da questão deve
estar no conteúdo e não na sua formulação.
r) Depois de
elaborada a Avaliação, releia e analise cada item. Resolva-os como se fosse o
próprio aluno. Isso ajuda a reestruturar a questão e a estabelecer o tempo de
resolução de forma mais precisa. Considere sempre que essa é uma simulação, mas
que você é o professor.
s) Depois de
aplicado, corrija com atenção e faça a tabulação dos resultados. Se muitos
alunos errarem uma determinada questão pode ser que ela tenha sido mal
formulada. Peça as opiniões dos alunos a respeito da compreensão que tiveram
sobre o enunciado.
t) Guarde as
boas questões para serem aproveitadas em
outros momentos, organizando um arquivo de
questões. Nesse caso, guarde a questão junto com o objetivo a que se
propôs verificar.
Orientações específicas para a
elaboração de diferentes tipos de questões objetivas:
q Questões de
recordação simples ou itens de resposta curta:
São úteis quando
se pretende que o aluno defina, nomeie, descreva. Os itens de recordação
simples apresentam-se geralmente sob a
forma de uma pergunta direta ou de declarações incompletas que exigem respostas
breves e bem definidas. O aluno deve escrever apenas uma palavra, uma frase
curta, um símbolo ou um número. Esse
tipo de questão deve admitir apenas uma resposta correta mas devem ser aceitas
diferentes maneiras de os alunos expressarem seus conhecimentos.
q Questões de
lacuna ou completar:
Consistem em uma ou mais frases com
algumas partes omitidas, que devem ser preenchidas por uma palavra, símbolo,
expressão ou número. Na correção pode-se atribuir um valor por questão ou um
valor por lacuna, dependendo do objetivo do professor. Usar, entretanto, um só
critério para todas as questões de lacuna.
Alguns cuidados:
a)
formule a questão de modo
que cada lacuna só admita uma resposta correta;
b)
use afirmações curtas e bem definidas;
c)
omita apenas as palavras-chave para que não haja mais de
uma interpretação, mas de modo que a palavra omitida não dificulte a
compreensão da questão;
d)
tratando-se de questões de medida especifique a unidade e a
precisão da resposta (m², litros, duas casas decimais, etc.);
q
Questões de verdadeiro/falso,
certo/errado:
São
particularmente úteis para verificar a distinção entre causa e efeito, entre
fato e opinião. Devem ser usadas com proposições indiscutivelmente verdadeiras
ou falsas. Sua construção requer cuidado para que as questões não se tornem
ambíguas.
Ao elaborar esse tipo de questão observe:
a)
liste várias afirmações verdadeiras e reescreva algumas para torná-las falsas;
b) redija frases
curtas, claras, em ordem direta; inclua no enunciado apenas assuntos
relevantes; evite declarações parcialmente corretas;
c) evite frases
longas; é preferível desdobrar a questão e apresentar uma idéia em cada item;
d) inclua apenas
um assunto em cada item;
c) cada
alternativa deve conter apenas uma afirmação;
d) mesmo a
afirmação errada deve ser enunciada de forma afirmativa;
e) use linguagem
simples para evitar equívocos no julgamento;
f) evite frases
negativas, principalmente negativas duplas;
g) evite o uso
de palavras taxativas como: sempre, nunca, todo, nenhum, geralmente, muitas
vezes, etc.
h) equilibre o
número de respostas falsas com as verdadeiras;
i) evite padrões
na seqüência de respostas;
q Questões
de múltipla escolha:
Nesse tipo de
questão pede-se ao aluno para selecionar
uma das respostas propostas como a mais adequada à pergunta formulada. Elas
podem ser organizadas em forma de perguntas ou de proposições incompletas. Uma
maneira prática de elaborar é imaginar inicialmente uma pergunta e sua resposta
correta e depois transformá-la em uma questão.
Essas questões
devem oferecer várias alternativas com respostas mais longas e mais completas,
das quais apenas uma é a correta ou a
que melhor reponde ao item. O número ideal de alternativas é de quatro ou
cinco. O aluno deve ser informado sobre
a existência de uma única alternativa correta ou sobre a possibilidade
de assinalar várias delas.
Cuidados na elaboração:
a)
usar linguagem
clara, correta e acessível;
b)
as alternativas não devem conter absurdos; todas devem ser
objeto de análise por parte dos alunos;
c)
evite o uso de
“ciladas” ou questões interligadas que favoreçam a propagação do erro;
d)
modifique aleatoriamente a posição da resposta correta;
e)
as alternativas
devem ser simples, curtas e de fácil leitura;
f)
construa todos os
itens do teste com o mesmo número de
alternativas.
É preciso romper
definitivamente o estereótipo do mestre com a fita métrica na mão, pronto para
medir, julgar e rotular cada um de seus estudantes.
Ao final, todo o processo tem de ser repensado, de forma a mudar
os pontos deficientes e aperfeiçoar o ensino e a aprendizagem. Basta que os
alunos tenham ido mal nas provas para
saber o que é preciso mudar na didática ou reforçar conteúdos. Enquanto os
alunos se perguntam o que fazer para recuperar a nota, os professores devem se
questionar como recuperar a aprendizagem.
“A nota é apenas uma representação simplificada de um momento do
processo de aprendizagem.
O que vale é o crescimento
do aluno em relação a si próprio e aos objetivos propostos."
Referências:
REVISTA, Nova Escola -
Edição Nº147 - Novembro de 2001.
TANCREDI, REGINA MARIA S. PUCCINELLI. O
Acompanhamento do Processo Ensino-Aprendizagem Através das Provas Escritas.
CAPES/SEE/DE. 2002.