domingo, 5 de setembro de 2010

Comunicação em Matemática: instrumento de ensino e aprendizagem

Kátia Stocco Smole e Maria Ignez Diniz - Coordenadoras do Mathema.

A palavra comunicação esteve presente durante muito tempo ligada a áreas curriculares que não incluíam a matemática. Pesquisas recentes afirmam que, em todos os níveis os alunos devem aprender a se comunicar matematicamente e que os educadores precisam estimular o espírito de questionamento e levar os seus educandos a pensar e comunicar idéias.

A predominância do silêncio, no sentido de ausência de comunicação, é ainda comum em matemática. O excesso de cálculos mecânicos, a ênfase em procedimentos e a linguagem usada para ensinar matemática são alguns dos fatores que tornam a comunicação pouco freqüente ou quase inexistente nas aulas desse componente curricular.

Se os educandos são encorajados a se comunicar matematicamente uns com os outros, com o educador ou com os pais, eles têm oportunidade para explorar, organizar e conectar seus pensamentos, novos conhecimentos e diferentes pontos de vista sobre um mesmo assunto.

Assim, aprender matemática exige comunicação, no sentido de que é através dos recursos de comunicação que as informações, conceitos e representações são veiculados entre as pessoas. A comunicação do significado é a raiz da aprendizagem.

Promover comunicação em matemática é dar aos alunos a possibilidade de organizar, explorar e esclarecer seus pensamentos. O nível ou grau de compreensão de um conceito ou idéia está intimamente relacionado à comunicação bem sucedida deste conceito ou idéia.

Dessa forma, quanto mais os alunos têm oportunidade de refletir sobre um determinado assunto, falando, escrevendo ou representando, mais eles o compreendem.

Somente trocando experiências em grupo, comunicando suas descobertas e dúvidas e ouvindo, lendo e analisando as idéias do outro é que o aluno interiorizará os conceitos e significados envolvidos nessa linguagem de forma a conectá-los com suas próprias idéias.

A capacidade para dizer o que se deseja e entender o que se ouve ou lê deve ser um dos resultados de um bom ensino de matemática. Essa capacidade desenvolve-se quando há oportunidades para explicar e discutir os resultados que obtidos e para testar conjecturas em diferentes formas.

A oralidade em matemática Em toda nossa vida de falantes, a oralidade é o recurso de comunicação mais acessível, que podemos utilizar, seja em matemática ou em qualquer outra área do conhecimento. É um recurso simples, ágil e direto de comunicação que permite revisões quase que instantaneamente, que pode ser truncada e reiniciada, assim que se percebe uma falha ou inadequação, independentemente da idade e série escolar.

Oportunidades para os alunos falarem nas aulas faz com que eles sejam capazes de conectar sua linguagem, seu conhecimento, suas experiências pessoais com a linguagem da classe e da área do conhecimento que se está trabalhando. É preciso promover a comunicação pedindo que esclareçam e justifiquem suas respostas, que reajam frente ás idéias dos outros, que considerem pontos de vista alternativos.

Na essência, o diálogo capacita os alunos a falarem de modo significativo sobre seus conhecimentos, suas dúvidas, suas aprendizagens, a conhecerem outras experiências, testarem novas idéias, terem consciência do que eles realmente sabem e daquilo que ainda precisam aprender.

A partir da discussão estabelecida, das diferentes respostas obtidas, o educador pode aprender mais sobre o raciocínio de cada aluno e perceber a natureza das respostas, realizando assim intervenções apropriadas.

A comunicação oral favorece ainda a percepção das diferenças, a convivência dos alunos entre si, o exercício de escutar um ao outro numa aprendizagem coletiva, possibilitando também aos alunos mais confiança em si mesmos, para que se sintam mais acolhidos e sem medo de se exporem publicamente.

A comunicação escrita Temos observado que escrever sobre matemática ajuda a aprendizagem dos alunos de muitas formas, encorajando reflexão, clareando idéias, e agindo como um catalisador para as discussões em grupo.

Produzir textos nas aulas de matemática cumpre um papel importante para a aprendizagem dos alunos e favorece a avaliação dessa aprendizagem em processo. Organizar o trabalho em matemática de modo a garantir a aproximação dessa área do conhecimento com a língua materna não apenas é uma forma de favorecer uma abordagem interdisciplinar, como permite a valorização de diferentes habilidades que compõem a realidade complexa de qualquer sala de aula.

Escrever em matemática pode ajudar os alunos a aprimorarem percepções, conhecimentos e reflexões pessoais. Favorece ainda que realizem processos de escuta, leitura, questionamento, observação, interpretação e avaliação. É como se, ao escrever, pudessem refletir sobre seu próprio pensamento e ganhar assim, uma consciência maior sobre seus caminhos, suas ações, suas aprendizagens.

Há muitas formas de favorecer os procedimentos de comunicação nas aulas de matemática, algumas delas são:

Explorar interações nas quais os alunos explorem e expressem idéias através de discussão oral, da escrita, do desenho de diagramas, da realização de pequenos filmes, do uso de programas de computador; da elaboração e resolução de problemas.

Pedir aos alunos que expliquem sem raciocínio ou suas descobertas por escrito.

Promover discussões em pequenos grupos ou com a classe toda sobre um tema.

Valorizar a leitura em duplas dos textos no livro didático.

Propor situações problema nas quais os alunos sejam levados a fazer conjecturas a partir de um problema e procurar argumentos para validá-las.
Com esse trabalho nossos objetivos são levar os alunos a:

Relacionarem materiais, desenhos, diagramas, palavras e expressões matemáticas com idéias matemáticas.

Refletirem sobre e explicar o seu pensamento sobre situações e idéias matemáticas:

Relacionarem a linguagem de todos os dias com a linguagem e os símbolos matemáticos:

Compreenderem que representar, discutir, ler, escrever e ouvir Matemática são uma parte vital da aprendizagem e da utilização da Matemática.

Desenvolverem compreensões comuns sobre as idéias matemáticas, incluindo o papel das definições

Desenvolverem conjecturas e argumentos convincentes;

Compreenderem o valor da notação matemática e o seu papel no desenvolvimento das idéias matemáticas.
A avaliação e a comunicação A avaliação tem a função de permitir que educador e educando detectem pontos frágeis, aprendizagens e que extraiam as conseqüências pertinentes sobre para onde direcionar posteriormente a ênfase no ensino e na aprendizagem. Ou seja, a avaliação tem caráter diagnóstico, de acompanhamento em processo e formativo.
Nesta proposta a avaliação é concebida como instrumento para ajudar o aluno a aprender. Assim, educador revê os procedimentos que vem adotando e replaneja sua atuação, enquanto educando vai continuamente se dando conta de seus avanços e dificuldades.
A avaliação só é instrumento de aprendizagem quando o educador utiliza as informações conseguidas para planejar suas intervenções, propondo procedimentos que levem o educando a atingir novos patamares de conhecimento.
O recurso da comunicação, nesse sentido é essencial, pois no processo de comunicar suas idéias o educando nos mostra ou fornece indícios de que habilidades ou atitudes está desenvolvendo, e que conceitos ou fatos domina, apresenta dificuldades ou incompreensões.
Os recursos da comunicação são novamente valiosos para interferir nas dificuldades encontradas ou para permitir que educando avance mais, propondo-se outras perguntas, mudando-se a forma de abordagem.
Como podemos ver, há muitas vantagens em estimular a comunicação nas aulas de matemática.
Que tal você tentar?

Referências bibliográficas: Lerma, Inés S. Comunicacion, lenguaje y matematicas.
In: Teoria y practica in educacion matemática.
Sevilla: Linares, Sánchez y García, 1990.

Miller, L. Diane. Fazendo a conexão com a linguagem.
Arithmetic Teacher, nº 6, pag. 311-316, fev. 1993.

Machado, N.J. Matemática e língua materna: a análise de uma impregnação mútua.
São Paulo: Cortez, 1990.

Smole, K. S. e Diniz. M. I.
Ler, escrever e resolver problemas: habilidades básicas para aprender matemática.
Porto Alegre: Artmed, 2001.



FONTE: www.mathema.com.br

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