domingo, 29 de agosto de 2010

O significado da Reprovação




“Cada criança tem seu tempo, desenvolve a sua aprendizagem no seu ritmo. Daí, é necessário que se entenda que se deve avaliar não comparando um aluno com outro, mas a criança consigo mesma.”

O que significa reprovar? Não está apto para! Mas, se tomarmos como pressuposto o processo ensino e aprendizagem o que se compreende não está apto para? Neste sentido, quando a escola tem no seu projeto pedagógico uma definição metodológica, entendendo a aprendizagem a partir de uma dimensão científica articulada ao conteúdo, a avaliação é possível justificar que o educando naquele momento não se encontra preparado, de acordo com os critérios definidos para a etapa ou série/ano determinado. Ou seja, se o aluno não consegue dominar e manipular os conhecimentos previstos para que operando com eficiência e atingindo com eficácia os resultados estabelecidos previamente pelos professores, será considerado ainda não apto para o ano seguinte.

Assim, a aprovação ou reprovação deve considerar a aprendizagem, mas relacionando com o desenvolvimento e o amadurecimento cognitivo, emocional, biológico e até físico. É comum entre as classes elitizadas a exigência dos pais para que a “boa escola” lecione conteúdos para além daquele ano, ou melhor, os pais são levados por uma falácia, como se o avanço do ensino dos conteúdos do ano seguinte na série anterior fosse sinônimo de ter filhos inteligentes. Com a contribuição das teses construtivistas é fundamental o respeito à criança e ao seu tempo. Respeitá-la implica investir na autoestima da criança e acompanhar integralmente o seu crescimento, percebendo as nuanças da sua evolução. Cada criança é um ser com suas definições e peculiaridades que vão se fazendo, modificando e acomodando tendo em vista as suas relações com o meio, as suas conquistas como pessoa e ao seu crescimento de vida como ser humano.

Na educação escolar, professor, pais, responsáveis e educadores devem estar atentos para o aparecimento das fragilidades ou a imaturidade do ponto de vista da aprendizagem. Algumas crianças, precocemente, desenvolvem-se com uma certa facilidade, enquanto outras são mais lentas na sua prontidão para aprender determinados conteúdos. Isso nos leva a constatar a complexidade dos seres humanos. Cada criança tem seu tempo, desenvolve a sua aprendizagem no seu ritmo. Daí, é necessário que se entenda que se deve avaliar não comparando um aluno com outro, mas a criança com si mesma.

Portanto, a avaliação deve ser consistente e servir como um diagnóstico que oriente ao professor à escola, os pais ou responsáveis na escolha das opções para que a criança, da melhor forma, possa reunir as condições para superar as dificuldades, sejam de ordem cognitiva, afetiva ou outras – e que permita, se for o caso, até a repetição do ano letivo na mesma escola. Eventualmente os pais, com receio, retiram a criança da escola, matriculando-a no ano seguinte em outra instituição. Mas, há que se considerar que se a criança está bem adaptada àquela escola, o afastamento dela para outra instituição pode provocar outras reações, inclusive negativa em relação ao seu comportamento. É claro que quando ocorre a reprovação, no ano seguinte, durante as primeiras semanas a criança expressará um sentimento de perda e poderá até esboçar situação de lamento, insegurança e tristeza, angustiada por não está com o “seu” grupo do ano anterior. Mas, o próprio tempo e o cuidado da professora levará a criança a se destacar dentre os demais novos colegas, isso resultará na afirmação da sua autoestima.
Às vezes não se tem como evitar a reprovação. O tempo da criança deve ser respeitado. O que vai exigir a paciência dos pais. Se se tem atenção com a caminhada do filho ou não, o olhar de zelo deve ser redobrado. Daí, é preciso que não somente a escola faça a sua parte, mas os pais é muito importante observar cuidadosamente o desempenho da criança, está presente e fortalecer por meio de gestos, ações e conselhos que reforcem sua autoestima. Elogiar cada passo pelo apreço da conquista, enfatizando os acertos. Cada acerto, mesmo que pequeno, deve ser altamente valorizado. Não se pode esquecer que para se ter gestos concretos é necessária a presença dos pais ou responsáveis na vivência diária da criança. Esta atitude de presença se revelará em um ato de amor, que transformará o carinho em confiança: o amor faz os relacionamentos ganharem consistência. Passado esse momento de sofrimento, esse tormento, a criança conquista o seu espaço no grupo, amplia as suas amizades e paulatinamente vai se afirmando como pesssoa junto ao grupo. A criança percebe que é capaz e se afirma como sujeito e a cada momento de afirmação do seu sucesso, ocorre a consolidação das suas conquistas, tornando cada passo de sucesso na aprendizagem. A vitória na sua caminhada de recuperação da sua autoimagem positiva que vai contribuindo para a elevação da sua autoestima. Para que isso efetivamente ocorra é prudente uma análise criteriosa dos problemas que a criança apontou nas suas insuficiências.
Portanto, diante do significado da aprendizagem, como foco estratégico para sucesso escolar, é imprescindível que os professores tomem consciência da sua função de educadores, que os gestores permitam ousar com a mudança na escola, rebelando-se frente aos modelos tradicionalmente praticados de ensino, aprendizagem e avaliação. É mais importante uma criança feliz confiante em si mesmo, sentindo-se capaz de superar desafios que possam surgir na sua vida, tanto escolar quanto existencial, do que no futuro um adulto frustrado, incapaz e limitado que não se reconhece como sujeito. A reprovação também pode impregnar no indivíduo a hipocrisia de uma escola que não respeita a dignidade da pessoa e nega o sentido ético da vida humana.

Créditos: Casemiro Campos (Revista Aprendizagem, 3ª edição.)